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O mito do bom selvagem

Jean-Jacques Rousseau, em seu “Contrato Social”, escreveu que o homem, em estado selvagem, é puro, imune aos sentimentos negativos que caracterizam a civilização humana. Em cima dessa tese alicerça-se a filosofia rousseauneana do “Mito do Bom Selvagem”.

O mito do bom selvagem



Refletindo sobre o pensamento de Rousseau, constatamos que a civilização moderna, que tomou vulto a partir da Revolução Industrial, pouca importância confere aos valores espirituais, relegando-os a segundo plano.

Na era dos foguetes, apenas a matéria existe e é considerada. O amor, o sentimentalismo, a solidariedade – essas manifestações exclusivas do homem – tudo isso é coisa do passado. Infelizmente.

É evidente que não podemos viver no meio do mato à pretexto de corroborar a tese de Rousseau. Isso é utopia. A civilização humana está em seu ápice e é impossível pretender colocar sete bilhões de pessoas no meio do mato, ainda mais porque os pernilongos, as motucas, os borrachudos sentir-se-iam pouco à vontade...

Também não devemos ser sarcáticos como Voltaire, que, satirizando a filosofia de Rousseau, disse que “ninguém jamais pôs tanto engenho em querer nos converter em animais” e que quem lesse Rousseau teria “desejos de caminhar em quatro patas”.

O ideal deveria seria a conciliação do homem e do meio ambiente com o progresso necessário à vida humana; irmanados, trarão benefícios todos.

Hoje em dia, quando o ser humano se prepara para conquistar a imensidão do espaço; quando já dominou o átomo e os segredos insondáveis dos microorganismos; quando a tecnologia conquistou o seu mais alto estágio; hoje, para esse pobre e decadente homem, o mundo se resume apenas ao egocentrismo, à ambição, ao desamor, ao despotismo.

Rousseau e seu mito já caíram no esquecimento: são resquícios filosóficos do passado. A civilização, ou o processo “civilizante”, tem o poder de contaminar a todos, mandando às favas os sentimentos.

Levado pela ganância e pelo orgulho desenfreados, que insistem em andar lado a lado com o homem, chegará um dia que a hecatombe nuclear, até hoje adiada, destruirá toda a humanidade, ou melhor dizendo, os centros industriais e populacionais da civilização humana.

E, quando esse dia chegar, aí então os índios das Américas, os aborígenes da Austrália, os selvagens da África, os autóctones da Oceania, esses, que até agora não foram contaminados pelo germe da civilização, encarregar-se-ão de, sobre uma terra destruída, construir a civilização com a qual sempre sonhamos. (Não poderíamos construir essa civilização hoje?!)

Num de meus raros momentos de “inspiração”, eu, que nunca passei de um sofrível rabiscador de versos, escrevi o poema “Homem!”, ainda na inocência de meus 19 anos:

Homem!

Olhai ao vosso redor:

Vede as coisas boas

Que ainda existem.

A vida é bela: Ame-a,

Viva-a, intensamente.

Momentos de vida

Que se perdem

São momentos preciosos

Que não gozaremos jamais.

Homem!

Para que as guerras, afinal?

A vida é tão boa sem elas...

Por que nos massacrarmos

Se somos todos irmãos?


Também aos 19 anos escrevi este poema sobre o egoísmo humano, “O Rei do Nada”:

O homem se aquece

Ao pé da lareira

E pensa ser tudo.

Sonha ser o rei,

O rei supremo do Universo.

Ele é um homem estranho.

Parece humano

(de carne e osso)

Mas é irreal.

Seu egoísmo mesquinho,

Que ele cultua loucamente,

Enche-o de um inexplicável prazer.

O ar quente da lareira

Parece contribuir a isso.

O homem está em seu meio.

É um homem que vive em seu palácio.

Mas ele está só.

Julga ser o maior dos homens

Mas não há ninguém para aplaudi-lo.

 

 

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

 

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

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