Rodovia Régis Bittencourt era inaugurada há 60 anos Rodovia Régis Bittencourt era inaugurada há 60 anos 1
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Rodovia Régis Bittencourt era inaugurada há 60 anos

Há sessenta anos, no dia 24 de janeiro de 1961, era inaugurada a Rodovia Régis Bittencourt, numa extensão de 381 Km, trecho São Paulo-Curitiba da então chamada BR-2, que permitiu a ligação contínua da cidade de São Paulo ao quilômetro 281, além da cidade de Jacupiranga (naquele ano Cajati ainda não era emancipada), e de Curitiba ao quilômetro 100. 

Rodovia Régis Bittencourt era inaugurada a 60 anos
Juscelino desata fita de inauturação da Régis Bittencourt. (Revista Manchete, nº 460, 11/2/1961. 

Na ocasião, apenas o trecho situado no estado de São Paulo foi aberto ao público, pois ainda estavam inacabados cerca de vinte quilômetros na divisa com o Paraná. Devido às fortes chuvas que caíam há três meses sobre a região da Serra do Mar no limite dos estados de São Paulo e Paraná, que atingiram índices pluviométricos que não se viam há trinta anos, o Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (DNER) somente autorizou o tráfego de veículos entre os quilômetros 281 e 301 no final do mês de fevereiro, tendo em vista as obras de proteção de taludes dos cortes nesse trecho estarem muito prejudicadas pelas constantes quedas de barreiras. 

A CHEGADA DE JUSCELINO 

Desde as primeiras horas da manhã, grande massa de populares já se aglomerava nas cabeceiras da Ponte Engenheiro Newton Coelho, em Registro, aguardando com ansiedade a chegada do presidente da República, Juscelino Kubitschek, que decidiu percorrer de automóvel o trecho de 185 quilômetros que separava a Capital do Estado da cidade de Registro. Trechos da rodovia, e também a ponte, estavam enfeitados com faixas alusivas ao programa de metas de Juscelino e à inauguração da Rodovia Régis Bittencourt. 

O presidente chegou a Registro às 13h45. Batedores precederam a comitiva presidencial, sob a aclamação popular animada pelos acordes da banda do Exército de Santos. O presidente teve dificuldade para passar pela multidão, que queria tocá-lo ou abraçá-lo, até chegar ao local do descerramento da placa comemorativa da inauguração da Ponte Engenheiro Newton Coelho, de 320 metros de extensão, a maior entre as sessenta e quatro da rodovia. 

 O ALMOÇO

Em seguida, Juscelino foi homenageado com um almoço de seiscentos talheres oferecido pelas cinco firmas que construíram a estrada. O almoço foi realizado em galpão especialmente construído para a ocasião. Ao lado de Juscelino tomaram assento Márcio Porto, representante do governador Carvalho Pinto; almirante Ernâni do Amaral Peixoto, ministro da Viação e Obras Públicas; general Porphirio da Paz, vice-governador; Dom Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, cardeal-arcebispo de São Paulo; coronel Lino Teixeira; engenheiro Carlos Pires de Sá, diretor do DNER e chefe da Comissão Especial de Construção da BR-2 e Régis Bittencourt; os deputados Leôncio Ferraz Júnior e Athiê Jorge Cury; engenheiro Régis Bittencourt, patrono da rodovia; prefeitos e vereadores das cidades de Registro, Iguape, Pariquera-açu, Juquiá, Eldorado, Sete Barras, Miracatu e Cananeia; além de representantes das firmas construtoras da rodovia e outras autoridades estaduais e federais. 

Conforme cardápio impresso, o almoço foi o seguinte: Entrada: salgados, canapés, coquetéis, melão com presunto. Almoço: frango à caçarola com arroz, filé mignon assado com virado de palmito. Sobremesa: doces brasileiros, frutas nacionais. Café, cigarros e charutos. As cinco construtoras responsáveis pela obra da Rodovia Régis Bittencourt, e que patrocinaram o almoço, foram: Construtora Rabello S/A, Cia. Brasileira de Pavimentação e Obras, Cia. Construtora Brasileira de Estradas, Cia. Metropolitana de Construções e Construtora Andrade Gutierrez S/A. 

Antes do início do almoço, Juscelino recebeu de presente uma boneca japonesa numa redoma de vidro, homenagem da colônia japonesa de Registro e do povo do Vale do Ribeira. O presidente foi cumprimentado por todos os prefeitos da região, em nome dos quais discursou o ex-prefeito de Registro, Jonas Banks Leite, que destacou o progresso que Juscelino trouxe        ao País e ao Vale do Ribeira em particular. Em seguida, também discursaram Hiroshi Sumida, em nome do RBBC; Antônio Tashiro, pela colônia japonesa; deputado Leôncio Ferraz Júnior; o presidente da Associação Rodoviária do Brasil, em nome das firmas construtoras da rodovia; e engenheiro Carlos Pires de Sá, da Comissão Especial da BR-2, que fez um histórico da construção da rodovia. Uma menina, representando a infância valerribeirense, declamou uma poesia em homenagem ao presidente, que discursou em seguida. 

O DISCURSO 

Em discurso improvisado para um público de aproximadamente três mil pessoas, Juscelino disse que recebeu de Deus o privilégio de conduzir o País para o meio das maiores nações do mundo. Eis alguns trechos do discurso: 

“[...] Nações subdesenvolvidas no mundo nos olham com inveja porque trilhamos o caminho do desenvolvimento. 

“[..] Nós estamos aqui plantando uma nova semente para este país, formando a consciência da nova nação que perde o complexo de inferioridade, que sabe que pode realizar. Essa é a nova mentalidade que criamos no Brasil. 

“[...] Venho pela última vez a São Paulo dizer não apenas adeus, mas inaugurar uma obra que vai representar o instrumento de progresso para toda uma região.” 

Ao embarcar às 16h30 no avião presidencial Viscount com destino a Brasília, Juscelino abriu ao tráfego aéreo o campo de pouso de 1.500 metros construído em Registro pelo DNER, em convênio com o Ministério da Aeronáutica, como uma alternativa para as linhas aéreas comerciais que demandavam o sul do hemisfério. 

A inauguração da Rodovia Régis Bittencourt vinha coroar o trabalho de Juscelino de estabelecer uma ligação rodoviária de primeira classe entre Rio de Janeiro e Porto Alegre. Em seu governo foram entregues sucessivamente ao tráfego os trechos Porto Alegre-Caxias do Sul, Curitiba-Lages e Lages-Caxias do Sul. 

A estrada tem o seu marco zero na Praça da Sé, atingindo pela rua da Consolação e pelas avenidas Rebouças e Francisco Morato. Percorre regiões que variam de altitude de 870 metros (Km 45) a 15 metros (Km 185), rasgando planalto e litoral, separados pela Serra do Mar. A terraplanagem executada foi da ordem de 45 milhões de metros cúbicos. As “obras de arte especiais” (pontes etc), num total de 64, somaram 4.000 ml. A pavimentação asfáltica executada cobria uma área de 2.650.000 metros quadrados. 

Para a construção das “obras de arte” e pavimentação da rodovia foram gastos pelo DNER cerca de 12 milhões de cruzeiros, o maior valor até então verificado no País. A estrada antiga utilizada tinha 113 Km a mais de extensão, prolongando a viagem, e em muitos trechos não possuía asfalto. Em Curitiba, as solenidades foram rápidas, constando da inauguração de uma placa comemorativa no trecho de Atuba e corte da fita simbólica. 

QUEM FOI RÉGIS BITTENCOURT? 

Quem foi o engenheiro civil Edmundo Régis Bittencout, cujo nome foi dado à BR-116 no trecho entre São Paulo e Curitiba? Apesar de sua indiscutível importância para a melhoria das estradas de rodagem no País, pouco se conhece sobre a sua biografia. 

Desde muito tempo era acalentado o sonho de ligar as duas metrópoles por um caminho mais curto. A ligação entre essas duas grandes cidades era feita por meio da São Paulo-Paraná (como então se chamava a Rodovia Raposo Tavares), passando por estradas menores que começavam na altura do atual município de Vargem Grande Paulista. 

Estudos foram feitos para se construir uma rodovia que ligasse São Paulo a Curitiba, passando pelo Vale do Ribeira. Durante o governo de Juscelino Kubitschek esses estudos foram aprofundados. Como superintendente do DNER, Edmundo Régis Bittencourt empenhou-se para a construção e inauguração da rodovia, em 1961. Modesta no início, com apenas uma pista simples, com alguns trechos sem asfalto, que se iniciava na altura do bairro do Pinheirinho, na divisa de Embu e Itapecerica da Serra. 

Régis Bittencourt foi o primeiro presidente do DNER, quando houve a transição de Comissão de Estradas de Rodagem para DNER, sendo sucessor de Yeddo Fiuza, primeiro diretor geral da empresa. Manteve-se à frente da gestão do DNER de 15 de fevereiro de 1951 a 9 de setembro de 1954, e depois, de 4 de fevereiro de 1956 a 30 de agosto de 1960. 

Durante a sua gestão foi criada a Polícia Rodoviária Federal. 

Em 30 de agosto de 1960, Régis Bittencourt foi nomeado por Juscelino como membro do Conselho Superior das Caixas Econômicas Federais, em substituição a Euclides Vieira. 

Foi ainda presidente da Associação Rodoviária do Brasil (ARB), fundada em 1947, um marco na história das estradas de rodagem brasileiras. Foi também um dos fundadores da Associação Brasileira de Engenheiros em Infraestrutura de Transportes, fundada em janeiro de 1954. 

Entre 1940 e 1947 foi interventor em Itaperuna (RJ). 

É autor do livro “Caminhos e Estradas na Geografia dos Transportes” (Editora Rodovia, 1958), considerado referência nacional do segmento rodoviário. 

Foi casado com a senhora Vossina Brígido Bittencourt. Faleceu em agosto de 1968. 

CURIOSIDADES 

A BR-116 é uma rodovia longitudinal brasileira que tem início no município de Fortaleza, no estado do Ceará, e termina em Jaguarão, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai. Ao lado da BR-101, é um dos principais eixos rodoviários do país, sendo também a maior rodovia totalmente pavimentada do Brasil, com 4.486 km de extensão. 

A BR-116 passa por dez estados, ligando cidades importantes como Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza. A via é duplicada nas áreas metropolitanas, além de ter sido totalmente duplicada entre Curitiba e o Rio de Janeiro, após a conclusão do trecho denominado Serra do Cafezal, estado de São Paulo, na Rodovia Régis Bittencourt. 

Como a BR 116 é uma via muito extensa, ela adquire nomes diferentes em cada um de seus trechos, como os seguintes: 

Via Serrana, na parte do sul do país, no trecho entre as cidades de Jaguarão (RS) e Curitiba (PR);

Régis Bittencourt, no trecho entre Curitiba e São Paulo – região que já teve o trágico apelido de “Estrada Morte” em razão do grande número de acidentes que ocorria no trecho antes da duplicação da via; 

Presidente Dutra, no trecho entre as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro; 

Rio-Teresópolis, no trecho entre Rio de Janeiro, Teresópolis e Além Paraíba; 

Rio-Bahia, na região que passa pelo território de Minas Gerais; 

Santos Dumont, no trecho entre Fortaleza e Rio de Janeiro, no entroncamento com a BR-040. 


REFERÊNCIAS 

Correio Paulistano, nº 32.159, 25/1/1961, p. 2.

Diário do Paraná, nº 1.732, 24/1/1961, p. 1.

Manchete, nº 460, 11/2/1961.

O Cruzeiro, nº 19, 18/2/1961.

Wikipédia.


Inauguração da ponte, em Registro. (Revista "O Cruzeiro", nº 19, 18/2/1961.
Inauguração da ponte, em Registro. (Revista "O Cruzeiro", nº 19, 18/2/1961. 



Cardápio do almoço. (Foto: Memorial de Pariquera-Açu).
Cardápio do almoço. (Foto: Memorial de Pariquera-Açu). 


Crianças saúdam Juscelino. (Revista "Manchete", nº 460, 11/2/1961.

Crianças saúdam Juscelino. (Revista "Manchete", nº 460, 11/2/1961. 



Juscelino durante o almoço. (Revista "Manchete", nº 460, 11/2/1961.
Juscelino durante o almoço. (Revista "Manchete", nº 460, 11/2/1961. 


Juscelino descerrando a placa de inauguração da Régis. (Revista "O Cruzeiro", nº 19, 18/2/1961.
Juscelino descerrando a placa de inauguração da Régis. (Revista "O Cruzeiro", nº 19, 18/2/1961. 


O engenheiro civil Edmundo Régis Bittencourt.
O engenheiro civil Edmundo Régis Bittencourt. 


Inauguração da Régis. À esquerda, Juscelino; à direita, o coronel Rodolpho Pettená.

Inauguração da Régis. À esquerda, Juscelino; à direita, o coronel Rodolpho Pettená.


A partida de Juscelino.
A partida de Juscelino.



Criança registrense saudando Juscelino. (Revista O Cruzeiro, nº 19, 18/2/1961).
Criança registrense saudando Juscelino. (Revista O Cruzeiro, nº 19, 18/2/1961). 


Almoço em homenagem a Juscelino. (Revista "O Cruzeiro", 19, 18/2/1961).
Almoço em homenagem a Juscelino. (Revista "O Cruzeiro", 19, 18/2/1961).



ROBERTO FORTES


ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br
 

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).


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