A conta

 Tudo corria bem na vida de José, até ele escutar aquela malfadada batida na porta. Era o homem da companhia de força e luz, que trazia a conta do mês findo. José pegou o papel, agradeceu ao leiturista com um sorriso meio forçado e fechou a porta. Sentou-se no sofá e a primeira coisa que fez foi olhar para o papel que trazia nas mãos. Quase teve um enfarte ao ver o valor do débito: R$ 2.587,81!


A conta

– Mas o que significa isso, afinal?... De onde saiu essa quantia absurda?!...


Correu para a porta, saiu à rua, procurou pelo leiturista, mas foi em vão, ele sumira. José, nervoso, pôs-se a pensar e repensar no porquê daquele valor tão exorbitante. No último mês, pensava ele, pagara R$ 45,00; por que então essa soma de dois mil e quinhentos reais, agora?


Não perdeu muito tempo em pensamentos. Foi quase voando até o escritório da companhia de luz, falou com o rapaz que o atendeu, explicou-lhe a situação e fez questão de ressaltar que aquilo fora um erro da parte deles, um erro lamentável e de muito mau gosto.


O rapaz pegou a conta, examinou-a, checou os números do consumo de kilowatts, conferiu todos os dados, certificou-se do valor do débito. Não havia erro, disse: o valor era aquele mesmo: R$ 2.587,81! 

José tentou explicar, bradou, praguejou, disse que havia erro, que não pagaria aquela soma absurda, mas o rapaz limitou-se a dizer que somente após o pagamento da conta é que a companha conversaria com ele. 

José gritou, xingou, esperneou e quase bateu no rapaz, mas conteve-se a tempo. Vendo que nada resolveria ali, foi-se embora, amargurado, bronqueado, fulo da vida.

 

Voltou para casa. Refletiu, refletiu muito. Conversou com Genoveva, sua prestativa esposa, expôs-lhe a situação, segurou-a para que ela não caísse quando soube do ocorrido, e ficaram ambos a pensar.


Genoveva, por fim, opinou que o mais certo seria pagar a conta, nem que eles tivessem que recorrer à caderneta de poupança do casal ou que fossem obrigados a fazer um empréstimo.


Dito e feito. Retiraram todo o dinheiro da poupança, fizeram um empréstimo e pagaram a conta: R$ 2.587,81!


José mandou a companhia cancelar a sua ligação elétrica e, a partir daquele dia, só  por desaforo, o casal passou a viver no escuro.

 

“Luz?” – pensava José. – “Para mim nunca mais!”


ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br

(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

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