As tragédias e a Casa da Mãe Joana As tragédias e a Casa da Mãe Joana
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As tragédias e a Casa da Mãe Joana

Tragédias sempre aconteceram desde que o homem surgiu sobre a face da Terra, e já aconteciam muito antes de ele pensar em aparecer por aqui. Talvez a tragédia mais afamada seja o dilúvio universal, quando Iavé, descontente com os rumos que a Sua suprema criação havia tomado, decidiu pôr fim a tudo, ordenando a São Pedro que abrisse as torneiras do céu (apesar de sabermos que o Patriarca da Igreja só daria os ares de sua graça há apenas 2.000 anos). E somente permitiu que escapassem Noé, a sua família e as espécies de animais, que foram agrupadas em pares.


 

As tragédias e a Casa da Mãe Joana

Alguns exegetas destacam a índole vingativa e colérica d´Aquele que criou o Céu e a Terra, que não hesitou em expulsar Adão e Eva do Paraíso, obrigando-os a ganhar o pão de cada dia com o próprio suor; ou em reduzir às cinzas as libidinosas Sodoma e Gomorra; ou em testar a obediência de Abraão, obrigando-o a imolar o próprio filho. Mas quem somos nós, míseros mortais, para questionar os altos desígnios d´Aquele que, simplesmente, é?


Naqueles tempos selvagens, os códigos tinham que ser duros, inquebrantáveis, senão a coisa virava bagunça e o mundo se transformaria numa Casa da Mãe Joana. Falando nesta caridosa mãe, fiquei sabendo que a Mãe Joana realmente existiu. Segundo Eduardo Martins (“História Viva”, nº 15, janeiro/2005), a famosa Mãe Joana não era outra senão a rainha de Nápoles, protetora dos poetas e intelectuais.


Quando Luiz I, da Hungria, invadiu o reino de Nápoles, em 1348, a rainha Joana foi obrigada a se refugiar em Avignon, na França. Passado um ano de sua chegada, a rainha Joana resolveu botar ordem na atividade representada pela mais antiga das profissões, regulamentando os bordéis (também conhecidos por “lupanares”, “casas de mulheres-damas”, “casas de mulheres-de-má-fama” etc, para ficarmos apenas por aqui).


Entre as várias regulamentações, ficou decidido que as vendeiras do amor atenderiam os seus fregueses em casas que teriam uma porta, por onde os buscadores dos prazeres proibidos entrariam.


Como a regulamentadora da moral e dos bons costumes era uma rainha, todos passaram a chamar os lupanares de Paço (palácio). A moda pegou, e até em Portugal as “casas de mulheres-de-má-índole” eram chamadas de Paço da Mãe Joana. Aqui no Brasil, a expressão foi adaptada para Casa da Mãe Joana – e passou a significar o local onde todos mandam, onde cada um faz o que bem entende e que seja o que Deus quiser.


Bem, já usamos em vão o nome do Supremo Criador e ainda não entramos no tema de nossa crônica de hoje: as tragédias naturais. Alguns céticos, alegando a morte de tantos inocentes, inclusive crianças – milhares de crianças –, bradam aos quatro cantos que a tese de que Deus não existe foi confirmada.


Alguns religiosos afiançam que a tragédia nada mais é do que um aviso d´Ele para que repensemos nossos atos. Outros, mais apocalípticos, acreditam que é um sinal de que o fim se avizinha. Ecologistas radicais garantem que a Mãe Natureza (que é bem mais poderosa do que a Mãe Joana) estaria se vingando do homem, depois de séculos de degradação ambiental. Alguns filósofos niilistas bradam a máxima de Ivan Karamázov, segundo a qual, se Deus não existe, tudo é permitido.


Em minha insignificância, prefiro acreditar que tragédias naturais, como a da Indonésia em 2004, sempre aconteceram desde que a Terra é Terra. Na China, em 1887, uma inundação diluviana matou 1.0000.000 de pessoas. Na mesma China, em 1556, um terremoto exterminou 830.000. Em 1970, no Paquistão, um terrível ciclone ceifou as vidas de 300.000. Novamente na China, em 1976 e em 1920, dois terremotos tiraram as vidas de 255.000 e 200.000 pessoas, respectivamente.


Isso sem falarmos de outras hecatombes menos apocalípticas, porém mais conhecidas, como o terremoto de Lisboa, em 1755, que exterminou 60.000 lusitanos, ou a erupção, seguida de tsunami, em Krakatoa, na mesma Indonésia, que não teve piedade de 36.000 asiáticos.


E paramos por aqui.

 

ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

 

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