Augusto dos Anjos, o Poeta da Morte Augusto dos Anjos, o Poeta da Morte
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Augusto dos Anjos, o Poeta da Morte

Talvez o leitor estranhe este título um tanto insólito. Acostumado que está a ler amenidades nesta coluna, pode ser que o objeto da crônica de hoje lhe cause algum desconforto. Desconforto... Estranheza... Pasmo... Talvez sejam essas as palavras que definem um poeta singular, durante muitos anos esquecido e que só agora começa a ser reabilitado.

Augusto dos Anjos.
Augusto dos Anjos.


O leitor decerto já ouviu falar de Augusto dos Anjos, o “Poeta da Morte”, como ficou conhecido, já que em suas poesias evoca obsessivamente temas como morte, cemitérios, coveiros, decomposição da matéria e outros assuntos, digamos, um tanto mórbidos.


Abusando de termos médicos e científicos, de pouco uso em nosso dia a dia, o poeta conseguiu criar uma obra que, sem dúvida, não passa indiferente ao leitor. Suas construções verbais, a rudeza de seus conceitos, o apego à morte e aos vermes etc não ficam sem o nosso olhar de espanto e de admiração. A constatação é inequívoca: Augusto dos Anjos, tirando de lado a morbidez de suas poesias, é um de nossos maiores poetas. 


Nascido na Paraíba a 20 de abril de 1884 e falecido aos 30 anos no Rio de Janeiro a 22 de julho de 1914, vitimado por uma gripe fulminante, Augusto dos Anjos passou para o papel todo o drama de sua vida. A morte do pai logo cedo, a mãe perturbada mentalmente, a perda do filho que nasceu morto e outras negatividades talvez tenham influenciado o gosto desse poeta, que foi encontrar na quietude dos cemitérios, no cavoucar das pás dos coveiros, no voejar macabro dos morcegos e no horripilante banquete dos vermes a inspiração maior para os seus escritos.


O leitor bem sabe que nem só de Bilac ou Bandeira vive a nossa poesia. Deixando o lirismo de lado, conheçamos um pouco do mundo angustiante desse notável e original poeta, Augusto dos Anjos – ou “Poeta da Morte”, como queira –, neste insólito soneto “Psicologia de um vencido”: 


Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênesis da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.


Profundissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância...

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.


Já o verme – este operário das ruínas –

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,


Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!


ROBERTO FORTES

ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira.  E-mail: robertofortes@uol.com.br


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).


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