Ary de Moraes Giani, o jornalista que lutou pelo Vale do Ribeira Ary de Moraes Giani, o jornalista que lutou pelo Vale do Ribeira
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Ary de Moraes Giani, o jornalista que lutou pelo Vale do Ribeira


Jornalista, poeta, comerciante, industrial, historiador e político, Ary de Moraes Giani já em seu tempo era considerado uma das maiores personalidades do Vale do Ribeira. Filho de Francisco Giani e Antônia Maria de Moraes Giani, nasceu em Boa Esperança, distrito de Itapeúna, município de Xiririca (atual Eldorado), em 28 de novembro de 1913.

Ary de Moraes Giani, em 1950.
Ary de Moraes Giani, em 1950.
Foi irmão de irmão de Durvalina Giani França, casada com Onésio França; Walter Moraes Giani, casado com Elvira Rodrigues Giani; Leonor Giani Meirelles, casada com Darcy de Souza Meirelles; Francisco Giani Júnior, casado com Ilazir Surrage Giani; Terezinha Giani Cabral, casada com Wanderley Cabral; Claedmar Giani Oliva, casada com Virgílio Oliva; Lélia Moraes Giani Faggione, casada com Luiz Faggione Filho; Antônio Manoel Moraes Giani, casado com Sallete Gandini Giani; Maria Moraes Giani e José Moraes Giani, falecidos ainda crianças.

Em 1916, quando contava três anos de idade, o seu pai transferiu a família para Iguape, residindo no Largo do Rosário, no prédio de propriedade de dona Amélia Araújo. Em 1920, a família mudou-se para a rua General Glicério (atual Paulo Moutinho), esquina da rua Capitão Dias. Nesse ano, frequentou a escolinha da dona Candinha Gamba. Matriculado no Grupo Escolar, cursou até o quarto ano, tendo como mestre o professor Lauro Rocha.

Casou-se, em 1937, no então distrito iguapense de Registro, com Leonilda Aubin Pires, filha de Luiz Aubin Pires e Maria Assumpção Pires. De seu duradouro casamento de 68 anos, teve a filha Arynilda Giani Tavares, casada com Antônio Tavares.

COMERCIANTE E INDUSTRIAL

Em 1926, aos 12 anos, Ary Giani trabalhou na Casa Floramante Giglio. No ano seguinte, o seu pai transferiu a família para Xiririca, onde Ary teve aulas de Contabilidade. Em 1929, após o fracasso da política do café, o seu pai instalou na rua Tiradentes, em Iguape, a Casa Comercial F. Giani, onde Ary passou a trabalhar.

No ano de 1938, Ary Giani, já casado, inaugurou a Casa Comercial Arynilda, no Largo da Matriz, em prédio próprio que adquiriu do espólio do major Gentil Moreno Fortes. Como sócio de José Machado Carneiro, instalou a Fábrica de Sabão São Benedito.

No Porto do Ribeira, em Iguape, foi proprietário da organização A. M. Giani & Cia, onde desenvolveu a industrialização do pescado, madeira e arroz beneficiado. Com a Indústria Franco do Amaral S. A., produziu enlatamento do palmito.

O POLÍTICO

Ary de Moraes Giani exerceu diversos cargos nas comissões que se organizaram na cidade no período em que residiu em Iguape (1916-1956). Em 1932, alistou-se no Batalhão Redentor Filhos de Iguape e tomou parte na Revolução Constitucionalista. Sobre os heróicos momentos passados no front, Ary Giani escreveu um interessante diário, onde conta cada detalhe da luta em prol da democracia brasileira.

Tomou parte de todos os movimentos políticos de nossa região no período de 1934-1956. Foi um dos principais batalhadores pela construção do prédio do Ginásio, ocupando o cargo de secretário da Comissão Pró-Construção do Ginásio de Iguape e supervisor das obras. O Ginásio de Iguape, iniciado em 1941, durante o governo de Manoel Honório Fortes, foi inaugurado em 1951, na gestão de Pedro Coutinho. Foi secretário da diretoria do Partido Social Progressista (PSP).

Foi vereador na legislatura de 1948-1952, quando ocupou o cargo de presidente do Legislativo iguapense, ao tempo em que a Câmara era formada por Dr. Paulo Barreiros, Carlos Fausto Ribeiro, Manoel Alves da Silva, Dácio de Carvalho, Munitor Cardoso, José Izidro de Oliveira, Manoel Honório Fortes, Gasparino Costa, Manoel Xavier Júnior, Júlio de Souza e Alfredo Alves da Silva, tendo como suplentes o capitão Floramante Regino Giglio e Orlando Sant´Anna de Moraes.

Ainda na política, Ary Giani chegou a ser suplente de deputado estadual, o que dá uma idéia do seu conceito junto à população da região, na época.

COM ALBERT CAMUS

Nessa época, presidindo a Edilidade, Ary Giani teve a oportunidade de receber o imortal escritor Albert Camus (Premio Nobel de Literatura de 1957), que visitou Iguape e o Vale do Ribeira entre os dias 5 e 7 de agosto de 1949, acompanhado do escritor modernista Oswald de Andrade.

Camus, assistindo a procissão do Bom Jesus, ficou tão impressionado, que escreveu o conto “A pedra que cresce”, inserido no livro “O Exílio e o Reino”, onde fixa interessantes momentos da grande romaria.

Em 1955, Ary Giani foi eleito presidente do Club Recreativo 25 de Janeiro, que sofrera um incêndio no Carnaval do ano anterior.

Tipógrafo, comerciário, comerciante, industrial, político, jornalista, Ary de Moraes Giani sempre procurou exercer com dignidade suas atividades em nossa região, até a sua mudança para Santos, em 1956. Naquela cidade, foi administrador do Clube Internacional e chefe do escritório do Saldanha da Gama. Foi comerciante na rua Antônio Bento, gerente da Sociedade Beneficente e gerente da Casa Comercial S. Rodrigues, na Av. Ana Costa, onde se aposentou.

Foi também candidato a vereador, suplente de deputado estadual e presidente do Clube Recreativo IT.

O HISTORIADOR

Ary de Moraes Giani aos 20 anos, em 26-10-21933.
Ary de Moraes Giani aos 20 anos, em 26-10-21933.


Ao longo de sua vida, escreveu inúmeros trabalhos históricos relacionados à regiãodo Vale do Ribeira. Além das “Seleções Históricas de Iguape”, escreveu “Iguape, Cidade da Fé, Morada da Esperança”, “O Diário” (comentário sobre o Diário do Comendador Luiz Álvares da Silva), além de centenas de artigos avulsos sobre a região, cobrando melhoramentos para o seu querido Vale do Ribeira. Baseado nos escritos de Ernesto Young e Waldemiro Fortes, além de atas e documentos históricos diversos, Ary Giani investigou profundamente a história de Iguape e do Vale, descobrindo aspectos até então desconhecidos.

Também foi autor de importantes trabalhos genealógicos sobre as famílias Canto, Moraes e Giani, através das quais se entrelaçam outras famílias do Vale do Ribeira. Ler os seus trabalhos é como voltar no tempo. Com o seu estilo correto e envolvente – apesar de ter cursado apenas até o quarto ano primário, como sempre gostava de frisar – Ary Giani prende o leitor, e é impossível se desvencilhar de suas páginas antes de se chegar à ultima palavra. Trabalhos importantíssimos sobre a nossa região, que estão a merecer uma publicação, para que se tornem acessíveis ao grande publico.

O JORNALISTA

Ary Giani cobra do Governo o desenvolvimento do Vale do Ribeira. ("O Diário", de Santos", de 29-9-1957)
 Ary Giani cobra do Governo o desenvolvimento do Vale do Ribeira. ("O Diário", de Santos", de 29-9-1957)


Em 1924, aos 10 anos, Ary Giani começou seu aprendizado de tipógrafo nas oficinas do semanário “O Iguape”, dirigido pelo capitão Floramante Giglio, órgão semanal da oposição, da qual fazia parte o seu pai. Começava ali a trajetória desse jornalista que é considerado o mais importante representante da imprensa do Vale do Ribeira.

Em 1934, a convite do coronel Diogo Martins Ribeiro Júnior, líder político de Prainha (Miracatu), Ary Giani ajudou a instalar naquela cidade o jornal “Ribeira de Iguape”.

Em 25 de dezembro de 1934, aos 21 anos, fundou seu primeiro jornal, “O Combate”, para lutar por estradas para a região. Era um “jornal sem compromisso partidário, crítico, humorístico, esportivo e noticioso”.

Ary Giani também sofreu com a censura de Vargas. Em 5 de maio de 1936, o delegado de polícia de Iguape, José Rubens de Macedo Soares, enviou-lhe ofício informando que “doravante todas as matérias a serem insertas nesse jornal, sejam anteriormente submetidas à censura nesta Delegacia de Polícia; motivando essa exigência a decretação de estado de guerra em todo o país, e de acordo com as instruções da Secretaria de Segurança Pública do Estado”. Na edição nº 5, de 14 de junho de 1936, o jornal circulou com a seguinte informação, em letras grandes: “ULTIMA HORA – FORAM CONFISCADOS OS BENS D´O COMBATE”.

Mas quem nasce para jornalista nunca esmorece e não nem se verga diante das injustiças e das retaliações. Continuou o seu trabalho como jornalista. Foi correspondente do “Diário de São Paulo”, de 1937 a 1944, registrando os principais acontecimentos e melhoramentos da cidade e da região do Vale do Ribeira, entre os quais, a campanha pelo Ginásio de Iguape, navegação fluvial, industrialização da manjuba, reconstrução da Santa Casa, serviço de água e esgoto, cooperativa de bananicultores, estradas de rodagem etc.

Colaborou com o semanário “Eldorado Paulista”, editado de 1952 a 1954 por Nesclar de Carvalho, escrevendo artigos sobre a região e publicando a série “História, Lendas e Tradições de Iguape”.

Em 1955, adquiriu as oficinas do semanário “Eldorado Paulista” e passou a editar o “Jornal de Iguape”, que circulara de 1951 a 1952, dirigido por Nesclar de Carvalho. Muitos dos seus escritos foram assinados por Amegê e Inaigyra, pseudônimos que adotou por muitos anos.

Nas páginas do “Jornal de Iguape”, Ary Giani escreveu longas séries de artigos sobre aspectos históricos e políticos da região e cobrou melhoramentos para Iguape e o Vale do Ribeira. Nesse mesmo ano, editou a antológica “Seleções Históricas de Iguape” e o “Suplemento Literário do Jornal de Iguape”, que reunia importantes poetas da região, entre os quais o consagrado João Albano Mendes da Silva (J. Mendes).

EM SANTOS

Ary Giani cobra do governador Jânio Quadros melhoramentos para o Vale do Ribeira. ("O Diário", de Santos, de 23-9-1957)
Ary Giani cobra do governador Jânio Quadros melhoramentos para o Vale do Ribeira. ("O Diário", de Santos, de 23-9-1957)


Já residindo nessa cidade, escreveu, para “O Diário”, a clássica série “Iguape, Cidade da Fé, Morada da Esperança” e a série de reportagens intitulada “A Região que São Paulo Esqueceu”, sobre o abandono do Vale do Ribeira, destacando a luta pela indústria do látex, com o plantio de seringueiras na região, além de outros artigos sobre temas variados.

Baseado em suas anotações escritas no front, escreveu e publicou nesse jornal a série “Episódios épicos do memorável movimento constitucionalista”, contando em detalhes a campanha dos revolucionários de 1932 no Vale do Ribeira. Escreveu também séries de reportagens sobre a Festa do Senhor Bom Jesus de Iguape. Tornaram-se antológicas as suas cartas-abertas aos governadores do Estado cobrando soluções para os mais urgentes problemas regionais, sempre defendendo o Vale do Ribeira e reivindicando melhoramentos, principalmente estradas.

Para “A Tribuna”, de Santos, escreveu as séries de reportagens “O Vale da Esperança” e “O Vale Esquecido”, além de variados artigos sobre Iguape e região. No suplemento de “A Tribuna” publicou a série “Pelas Terras de Cosme Fernandes”, em 11 capítulos, sobre o controvertido Bacharel de Cananeia. Escreveu, ainda, a série “Santos de Outrora”. Colaborou também para a “Revista Internacional”, de Santos.

Em 16 de abril de 1996, na Exposição dos 120 Anos da Fundação da Imprensa de Iguape e do Vale do Ribeira, realizada pela “Tribuna de Iguape”, com a colaboração de Catherine Fotiadis, então encarregada do Centro Cultural “Roberto Gomes Collaço”, o jornalista Ary Giani foi saudado como o decano dos jornalistas valerribeirenses, quando foi destacado o seu incansável trabalho pelo desenvolvimento de Iguape e região.

Ary de Moraes Giani faleceu no dia 20 de agosto de 2005, em Santos, aos 91 anos, entrando definitivamente para a História do Vale do Ribeira, pelo qual tanto lutou, escrevendo, também, e com louvor, o seu nome nos anais da imprensa valerribeirense, santista e paulistana.


ROBERTO FORTES
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br



(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).

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