Paulo de Castro Laragnoit foi historiador,
genealogista, professor e artista plástico, sendo considerado um dos maiores
vultos da inteligência valerribeirense. Durante toda a sua vida dedicou-se ao
estudo da história de Miracatu e do Vale do Ribeira, escrevendo e publicando
vários livros e artigos em jornais.
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Paulo de Castro Laragnoit, em 2007. |
Nascido na antiga Vila de Prainha
(hoje Miracatu) no dia 24 de dezembro de 1923, Paulo de Castro Laragnoit era
filho de Pedro Laragnoit e dona Clara de Castro Laragnoit. Pelo ramo paterno, era
bisneto do fundador de Miracatu, o francês Pedro Laragnoit, que doou as terras
onde em 1872 foi criada a Freguesia de Nossa Senhora das Dores de Prainha.
Aos seis anos, aprendeu a ler e a
escrever com o seu primo Salú, que era professor formado pela Escola Normal de
Itapetininga. Aos oito anos, entrou na Escola Mista de Prainha, de primeiro a
terceiro ano.
Ao completar 13 anos, foi estudar
em São Carlos (SP), na Escola de Comércio São Carlos, do francês Julien Fauvel,
de vasta bagagem intelectual. Formou-se em Ciências Contábeis
no ano de 1943.
Naquela cidade, Paulo Laragnoit
trabalhou no Escritório de Contabilidade de Bento Carlos de Arruda Botelho,
descendente dos fundadores de São Carlos, e na Casa Schiavone.
Ingressou no funcionalismo
público em 1946, como escrivão, na Coletoria Estadual de Miracatu. Foi
responsável pelo expediente do Posto Fiscal anexo à Coletoria e pela Caixa
Econômica Estadual, também anexa.
Pela Faculdade de Filosofia
Ciências e Letras de Registro diplomou-se em Estudos Sociais.
Lecionou na Escola Estadual “Prof. Armando Gonçalves”, na
Faculdade de Registro e em escolas de Juquiá e Miracatu.
Aposentou-se, após 35 anos de
serviço, no cargo de coletor estadual. Foi convidado para chefiar a Inspetoria
de Arrecadação, mas não aceitou o convite porque teria que se transferir para
Santos, e não desejava deixar a sua velha Prainha.
Foi casado com a professora
Marina Natal Laragnoit, falecida, não deixando filhos desse casamento.
O POLÍTICO
Na política, exerceu o mandato de
vereador no período legislativo de 1957-1960, ocupando o cargo de presidente da
Câmara. Como vereador liderou uma campanha para a construção do primeiro jardim
público de Miracatu, a Praça Pedro Laragnoit.
Quando se cogitou, em 1957, do
fechamento da Escola Estadual “Armando Gonçalves”, cujo prédio estava em
condições precárias, o vereador Paulo Laragnoit, na qualidade de presidente da
Câmara, num encontro em Pariquera-Açu, solicitou ao governador Jânio Quadros para
que construísse um prédio destinado ao ginásio. Jânio Quadros despachou
favoravelmente. Mas não havia terreno nem dinheiro.
Teve início então a campanha do
“Conto de Réis”: cada família miracatuense que tivesse condições emprestava à
Prefeitura Municipal um conto de réis. Foi dessa maneira que a Prefeitura pagou
ao cidadão Kahei Nakamura a primeira prestação do terreno do ginásio. Foram
elaboradas duas listas (Biguá e Miracatu), sendo responsáveis Paulo Laragnoit e
Seijó Onaga.
O HISTORIADOR
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Livros de Paulo de Castro Laragnoit.
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Como historiador, Paulo Laragnoit
esmiuçou os cartórios da região, o Fórum de Iguape, os arquivos do Instituto
Histórico e Geográfico de São Paulo, Arquivo do Estado e Cúria Metropolitana de
São Paulo.
A segunda edição de seu livro “A Vila de Prainha”, mereceu, em 1984,
da Câmara Municipal de São Carlos, “um
voto de calorosos aplausos”.
Historiador competente, dotado de
um estilo culto e de leitura agradável, Paulo de Castro Laragnoit publicou os
seguintes livros:
ü “A
Vila de Prainha - 1842-1960)”, 1ª
edição, Serviço de Publicações da Escola
de Engenharia de São Carlos, 1961;
ü “A
Vila de Prainha”, 2ª edição, revista e ampliada (historiando não apenas
Miracatu, mas todo o Vale do Ribeira), Editora Jaburu, São Carlos, 1984;
ü “Histórias
do Vale da Esperança”, Edição
do Autor, 1991 (este livro faz parte
da biblioteca da Seção Genealógica do Grupo Air France-Paris).
ü “Laurindo
de Almeida e a Vila de Prainha”, Gráfica Soset, 2006;
ü “Centenário
de Imigração Japonesa - 1908-2008”, Gráfica Soset, 2008;
ü “Quatro
mãos... Duas cabeças... Um só coração - Reminiscências da terra natal, no tempo
da escola primária” (crônicas, edição artesanal, em coautoria com o
padre João Joaquim Vicente Leite), Edição do Autor, 2011.
Em 1983, graças ao Consulado da
França em São Paulo, Paulo de Castro Laragnoit conseguiu estabelecer
intercâmbio cultural com as autoridades de Nay (pronuncia-se Né), na França, terra de Pedro
Laragnoit, onde se encontravam as suas raízes francesas. Paulo Laragnoit
recebeu do prefeito, e de outras autoridades daquela cidade, cartões postais e
cópias de documentos relativos à família Laragnoit, radicada naquela cidade
desde 1385.
Em 1984, a Câmara Municipal de
São Carlos fez a inserção em ata de “um
voto de calorosos aplausos pelo lançamento da segunda edição ampliada do seu
livro ´A Vila de Prainha`”.
Em 1888, os franceses publicaram
no “Bulletin dês Amis de Nay, et de la
Batielle” um resumo histórico de Miracatu. No final do texto, o jornalista
André Rizan escreveu:
“Após ter entrevisto o trabalho incansável que Pedro Laragnoit realizou
no Brasil, a gente pode sentir uma certa emoção quando se passa em Arros diante
da casa maciça, bem assentada sobre a colina, onde viveram seus ancestrais
desde o ano de 1385, data na qual ela era contada no número de fogos de Béar, e
onde vivem ainda seus descendentes. Os ancestrais não tinham certamente grau de
nobreza, mas o brasão à francesa que Miracatu escolheu em 1944 pode-se pensar
que eles tivessem de certo modo.”
Em 1992, o embaixador da França
no Brasil, a respeito do livro “Histórias
do Vale da Esperança”, escreveu: “Espero
que esse livro desperte o interesse, alcance o sucesso que merece, e que
Miracatu conserve, graças ao senhor, a memória de suas raízes francesas.
Paulo de Castro Laragnoit deixou ainda
trabalhos históricos inéditos, como: “Premonição”, “A longa viagem de volta”,
“Aconteceu na Vila de Prainha”, “A rebelião de Isidoro Dias Lopes”, “A procura
do passado” Escreveu também crônicas e poesias.
O MUSEU MUNICIPAL
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Acervo do Museu de Miracatu. |
O grande sonho que Paulo de Castro
Laragnoit conseguiu concretizar foi a criação do Museu Municipal “Pedro
Laragnoit”, oficializado pela Prefeitura de Miracatu através da Lei nº 605, de
13 de outubro de 1983, quando o historiador doou, por escritura pública, todo o
seu acervo pessoal, que passou a constituir o patrimônio do museu.
Em sua edição de 10 de novembro
de 1983, o jornal “O Estado de S. Paulo”
noticiou a respeito da criação do Museu Municipal:
“Criado e mantido pelo esforço pessoal de Paulo de Castro Laragnoit, o
Museu Municipal de Miracatu vai virar entidade oficial. Em outubro o prefeito
Itamar Tavares de Mendonça sancionou a lei criando a instituição que foi
denominado Museu Municipal ´Pedro Laragnoit´”.
O Museu Municipal foi
festivamente inaugurado em 30 de novembro de 1983, por ocasião do aniversário
de Miracatu.
O trabalho incansável de Paulo
Laragnoit como defensor da memória de Miracatu foi elogiado pelo Dr. Eurico
Branco Ribeiro, miracatuense, membro da Academia Paulista de Letras, ao falar
ao seleto auditório do Curso de Museus do Brasil, em 1967.
Antes de ser oficializado, o
museu funcionou, em caráter particular, por mais de 20 anos. Paulo Laragnoit
exerceu a função de diretor vitalício do museu até o seu falecimento.
O ARTISTA PLÁSTICO
Como artista plástico, Paulo
Laragnoit participou de diversas exposições, entre as quais:
ü I
Exposição de Pintura na Escola “Armando Gonçalves” (1978);
ü Exposição
de Fotografias Antigas, no Banco do Brasil (1983);
ü Exposição
de Pinturas “Memória de Uma Cidade”, também no Banco do Brasil (1983);
ü Exposição
do Lions de Artes Plásticas no Memorial da América Latina (1993), na capital
paulista; o seu quadro “Canoeiros do S. Lourenço” foi classificado e esteve
exposto naquela mostra de arte durante 15 dias.
Em 1973, promoveu a Exposição
Comemorativa do Centenário da Paróquia de Miracatu.
Participou ainda dos três Salões
de Artes Plásticas realizados pela Prefeitura de Miracatu, em diferentes
ocasiões, além de outras mostras no Vale do Ribeira.
Em abril de 1977, Paulo Laragnoit
e a sua esposa, a professora Marina Natal Laragnoit, elaboraram a bandeira de
Miracatu, que foi hasteada pela primeira vez no dia 17 de abril daquele ano,
por ocasião da inauguração do novo edifício do Fórum de Miracatu.
AS HONRARIAS
Muitas foram as homenagens que foram
conferidas a Paulo de Castro Laragnoit ao longo de sua vida:
Em 1978, o deputado Vicente Botta
consignou na ata da Assembleia Legislativa “um
voto de congratulações com a população de Miracatu pela criação do Museu
Municipal”. Note-se que nessa época o museu ainda era particular.
Em 1984, ingressou como acadêmico
na Casa de Francisca Júlia, passando a fazer parte da Academia Eldoradense de
Letras, dirigida pelo poeta João Mendes (1918-1997). Também nesse mesmo ano
ingressou na Academia de Letras Municipais como membro titular.
Em 1986, recebeu o grau
cavalheiresco da Câmara Brasileira de Difusão das Ciências Sociais e
Internacionais, conjuntamente com o Centro de Estudos de Ciências Jurídicas e
Sociais do Brasil. Dessas entidades recebeu o troféu “Gente Humana
Internacional”. A solenidade foi realizada na capital paulista, nos salões da
mansão do comendador Gasparian.
Também nesse mesmo ano de 1986, o
Centro de Estudos de Ciências Jurídicas e Sociais do Brasil e a Câmara
Brasileira de Difusão das Ciências Sociais Internacionais conferiu a Paulo
Laragnoit a Ordem Jurídica e Social do Brasil no grau cavalheiresco de
comendador.
Ainda em 1986, recebeu da Câmara
Municipal de Miracatu a medalha de honra ao mérito “Prefeito Joaquim Dias Ferreira”.
Em 1991, tornou-se “grande
oficial” do Centro de Estudos de Ciências Jurídicas e Sociais do Brasil, uma
das mais altas honrarias dessa entidade.
Em 1993, passou a fazer parte da
Associação Pró-Casa do Pinhal, que tem por finalidade dar apoio à conservação e
manutenção da sede da antiga Fazenda Pinhal, célula-mater do município de São
Carlos, preservando e divulgando o importante acervo historiográfico e
paisagístico nela contido.
Genealogista emérito, Paulo
Laragnoit foi sócio do Instituto Genealógico Brasileiro, de São Paulo, e do
Colégio Brasileiro de Genealogia, do Rio de Janeiro.
Em sessão de 30 de novembro de
1996, a Câmara Municipal de Miracatu concedeu-lhe o título de “Cidadão
Benemétido de Miracatu”.
Faleceu no dia 4 de dezembro de
2011, aos 87 anos, quando já era reconhecido como um dos mais ilustres vultos
do Vale do Ribeira.
ROBERTO FORTES, historiador e
jornalista, é licenciado em Letras sócio do Instituto Histórico e Geográfico de
São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br