Especialistas descartam a ideia de epidemia e apontam avanços no diagnóstico, na formação de professores e no engajamento das famílias como motor desse crescimento.
CURITIBA, 27 de maio de 2025 – Nos últimos anos, o Brasil tem testemunhado uma mudança significativa no cenário educacional: nunca se falou tanto sobre autismo e inclusão. Dados do Censo Escolar mostram que, entre 2023 e 2024, o número de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) matriculados em escolas brasileiras saltou de 636 mil para mais de 918 mil — um aumento de 44,4%.
Esse crescimento expressivo levanta uma pergunta importante: por que estamos vendo tantos novos casos?
A resposta não está em uma epidemia, mas sim em avanços sociais e estruturais que têm transformado o modo como o autismo é percebido, diagnosticado e acolhido — dentro e fora da sala de aula.
De acordo com o especialista em inclusão e educação para pessoas com TEA, Professor Nilson Sampaio, cinco fatores contribuem para esse aumento:
Diagnóstico mais precoce e acessível: Profissionais da saúde estão mais capacitados para identificar o autismo em idades menores, possibilitando que crianças entrem na escola com laudo médico e recebam atendimento especializado desde o início da vida escolar.
Redução do tabu e maior circulação de informação: O Transtorno do Espectro autista ganhou grande visibilidade devido à divulgação em redes sociais, conteúdos educativos e rodas de conversa que vem acontecido com cada vez mais frequência. Sampaio destaca que uma comunicação leve e empática sobre inclusão tem sido fundamental para mudar percepções e atitudes na escola.
Inclusão escolar em prática: As leis garantem o direito à educação para todos, inclusive para alunos autistas. Embora ainda em processo, a adaptação das escolas tem avançado por meio da oferta de Atendimento Educacional Especializado (AEE), da formação continuada de professores e de mudanças no ambiente físico e pedagógico. No entanto, como destaca o professor Nilson Sampaio, “inclusão não é só aceitar, mas transformar o jeito de ensinar.”
Dados oficiais mais precisos: Antes, muitas crianças autistas não eram formalmente identificadas nos registros escolares. “Com diagnósticos mais claros e sistemas de registro aprimorados, o número real de alunos com TEA começa a ser refletido nos dados oficiais”, explica Sampaio.
Famílias mais informadas e engajadas: Pais e responsáveis estão mais conscientes de seus direitos e exigem um olhar acolhedor das escolas. “O conteúdo compartilhado por educadores especializados tem sido crucial para fortalecer essa rede de apoio”, afirma o especialista.
Para Sampaio, o aumento nas matrículas não é apenas um número, mas o reflexo de uma sociedade que caminha para a inclusão real e o respeito às diferenças.
“Essa mudança exige empenho coletivo de famílias, escolas, profissionais de saúde e gestores públicos para garantir que as crianças e adolescentes com autismo tenham acesso a uma educação de qualidade, com empatia e respeito à diversidade”, destaca o especialista.
Portanto, o aumento nos números reflete não apenas o crescimento das matrículas, mas também o avanço na identificação, na visibilidade e na construção de uma educação pautada na empatia e no respeito à diversidade.
“Quando entendemos o autismo para além do diagnóstico, conseguimos olhar para o aluno como sujeito de direitos e potencialidades. A escola precisa ser esse espaço que acolhe, respeita e ensina na diversidade”, completa o educador.