Projeto Legado dos Pássaros valoriza as tradições da comunidade indígena Guyrá Pepo em apresentações teatrais

Iniciativa apoiada pelo Legado das Águas contou com espetáculos de canções tradicionais que falam sobre o amor à natureza, o cuidado com a terra e o rito sagrado dos Guarani

A comunidade indígena Guarani Guyrá Pepo, de Tapiraí, participa do Projeto Legado dos Pássaros, que resultou em uma peça teatral produzida a partir do entrelaçamento da cultura indígena Guarani e o modo de fazer teatral do homem não indígena. A iniciativa, apoiada pelo Legado das Águas – maior reserva privada de Mata Atlântica do país – e Instituto Votorantim, incluiu atividades desde janeiro, e será encerrada com uma apresentação aberta ao público, na Praça Central de Tapiraí, no dia 10 de dezembro, às 19h.

Para Daniela Gerdenits, gerente do Legado das Águas, o Projeto Legado dos Pássaros possibilitou uma rica interação entre diferentes culturas e valorização das tradições regionais. “Muitas pessoas de Tapiraí não sabem da existência de uma comunidade indígena no município, com uma história repleta de tradições e vivência em harmonia com a natureza. É um exemplo e inspiração para o cuidado com o meio ambiente. Acreditamos muito no potencial que a parceria com os povos originários pode gerar de benefícios não só na conservação da floresta, mas também no resgate e valorização da cultura local. Estamos muito felizes com o resultado do projeto”, afirmou a gerente.


Além do apoio e parceria do Legado das Águas e do Instituto Votorantim, o Projeto Legado dos Pássaros está sendo realizado a partir da Lei de Incentivo à Cultura, da Secretaria Especial da Cultura e Ministério do Turismo, do Governo Federal, com a contrapartida de seis apresentações da peça em Tapiraí. A primeira apresentação, que ocorreu dentro da própria aldeia, foi filmada e em breve ficará disponível para acesso ao público geral em Tapiraí e pela internet.


O projeto


O projeto foi idealizado por Sandra Corrêa Lotufo, da Corpo InCena Arte Educação, que junto com sua equipe, foi recebida pela comunidade em encontros durante todo o ano. No início, a intenção era que crianças e jovens participassem, mas com o desenvolver das atividades, outros integrantes da comunidade demonstraram interesse e começaram a frequentar os encontros teatrais.


Com isso, o enredo da peça foi ganhando um novo formato. O resultado foi um espetáculo que pode ser chamado de um rito cênico, em que são apresentadas canções tradicionais que falam sobre o amor à natureza, o cuidado com a terra e o rito sagrado dos indígenas Guarani, além de abordar fatos reais de integrantes da comunidade e a importância do chefe espiritual da aldeia, o cacique José Fernandes (em memória).

Durante sete meses de preparação, os artistas e educadores da Corpo InCena trabalharam aspectos como a expressão corporal, percepção do espaço, movimentos em grupo, coro, leitura guiada e voz, em aulas teatrais que contaram com a participação de 34 integrantes da comunidade.


“Assim como o modo de ser e viver do povo guarani é de, em cada momento, estar presente no que está fazendo, e estar no movimento, no fluxo da vida, a peça foi construída assim. Ela se concebeu como o entrelaçamento da história da cosmogonia (criação do mundo) na visão do Guarani com canções tradicionais que falam da necessidade do homem olhar para a terra e cuidar dela. Assim, eles fazem uma ponte, como os pássaros, que não poluem, não sujam nem destroem a natureza. Eles aprendem com os pássaros”, afirma Sandra. {alertInfo}



A diretora conta que o projeto inicial foi reestruturado para se adequar à realização dentro da aldeia, uma sugestão da analista de educação ambiental do Legado das Águas, Elaine Moura, para estreitar o relacionamento com a comunidade, que já participou do programa Portas Abertas e pôde conhecer e admirar as belezas da Mata Atlântica em atividades de educação ambiental na Reserva.

Segundo Sandra, ela, o diretor e o preparador vocal Ricardo Nash foram muito bem acolhidos, tendo o cuidado de respeitar as tradições e o ritmo dos participantes. “Tudo que fizemos dentro da aldeia, na construção do roteiro da peça, sempre foi combinado em reuniões com eles, com a autorização deles. As canções da tradição e os adereços utilizados foram escolhidos por eles. Com isso, fomos remodelando o roteiro. Foi um processo de muito aprendizado e troca. Foi uma surpresa ver que eles não precisavam ter aulas de musicalização”, conta.

Após a estreia no dia 27 de agosto, na aldeia guarani, durante a celebração do Ara Pyau (Ano Novo), alunos da EE Coronel João Rosa e da escola do bairro do Turvo também puderam apreciar o bem cultural produzido no projeto e acompanhar em outubro e novembro seis apresentações gratuitas realizadas dentro das escolas públicas. Além das apresentações, a equipe do projeto realizou também as contrapartidas, que foram três oficinas teatrais gratuitas para os alunos das escolas públicas da cidade.


Valorização da cultura indígena


Integrantes da comunidade celebraram a oportunidade. “É uma experiência que vamos levar para o resto de nossas vidas. Tomara que continue. Eu representei essa peça porque eu pude contar um pouco da minha história. Eu fiz um vestibular e passei. Era muito difícil para mim. Tive que andar três horas para ir até a faculdade e depois voltar. Por isso, me comoveu bastante fazer a peça, para mostrar para os indígenas que eles têm que ir além, para conseguir conquistar seus objetivos. Por isso eu fiz a peça. Para seguir adiante e mostrar também para meus filhos que eu posso ir mais”, diz o indígena Kwaray Tataendy Gilson.


Para Tupã Mirim Alízio Gabriel, um dos anciões da comunidade, o projeto foi importante e os participantes podem continuar desenvolvendo suas habilidades artísticas.

“Quero agradecer a paciência de vocês [equipe do projeto] com as nossas crianças, que tanto deram trabalho. Trabalho para ensaiar, para planejar, porque isso faz parte da vida, só que não faz parte da nossa cultura. Essa preparação, as cenas e as falas, tudo é coisa nova para a gente. Com certeza, se continuarem a fazer os ensaios, eles vão melhorando”, declara.


Karai Rokaju Valdir Gabriel, mestre em arco e flexa e artista, com participação em outros projetos culturais para disseminar a cultura Guarani, agradeceu a realização do Legado dos Pássaros na aldeia.

“Com isso, nós podemos levar a peça para qualquer lugar. Para qualquer aldeia. Para representar não só o que é da nossa cultura, mas também de outras. Gostei muito e queria fazer mais. E nós vamos conseguir. Estou muito feliz mesmo. Quero levar essa história, essas falas, para todo canto do mundo”.


Sobre o Legado das Águas – Reserva Votorantim

O Legado das Águas é a maior reserva privada de Mata Atlântica do Brasil. Área de 31 mil hectares divididos entre os municípios de Juquiá, Miracatu e Tapiraí, no Vale do Ribeira, interior do estado de São Paulo, que alia a proteção da floresta e o desenvolvimento de pesquisas científicas a atividades da nova economia, como a produção de plantas nativas e o ecoturismo. Foi fundado em 2012 pelas empresas CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, Nexa, Votorantim Cimentos e Votorantim Energia. É administrado pela Reservas Votorantim LTDA. e mantido pela Votorantim S.A, que também em 2012, firmou um protocolo com o Governo do Estado de São Paulo para viabilizar a criação da Reserva e garantir a sua proteção. Mais do que um escudo natural para o recurso hídrico, o Legado das Águas trata-se de um território raro e em estágio avançado de conservação, com a missão de estabelecer um novo modelo de área protegida privada, cujas atividades geram benefícios sociais, ambientais e econômicos de maneira sustentável. Saiba mais em https://www.legadodasaguas.com.br

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Projeto Legado dos Pássaros valoriza as tradições da comunidade indígena Guyrá Pepo em apresentações teatrais




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