“As armas e os
barões assinalados,
Que da ocidental
praia lusitana,
Por mares nunca
dantes navegados,
Passaram ainda
além da Taprobana.”
Quem
já não ouviu esses versos, escritos pelo maior poeta da língua portuguesa, Luiz
Vaz de Camões (1524-1580)? Os versos iniciais foram uma imitação do poema “Eneida”, de Virgílio: “Arma virumque cano” (“Canto as armas e
o varão”). As “armas” se referem aos feitos militares; enquanto “barões” são o
mesmo que “varões”, ou seja, homens valorosos, no caso, os portugueses.
A
vida de Camões sempre foi envolta numa aura de grandeza e de mistério. Há
dúvidas quanto ao local e à data de nascimento do poeta. Não foram localizados
documentos comprobatórios, por isso aceitam-se hipóteses as mais variadas. Em
seus poemas, Camões colocou muitos dados biográficos, que desde então vem sendo
pinçados pelos biógrafos para tentar preencher as muitas lacunas existentes. Camões
teria nascido em 23 de janeiro de 1524, em Lisboa. Isto porque um de seus biógrafos,
Faria e Souza, disse ter encontrado documento (depois desaparecido), segundo o
qual Camões tinha 25 anos em março de 1550. Foram feitos complicados cálculos
para chegar à data presumida.
A
mãe teria morrido durante o parto, conforme se pode deduzir dos versos:
“Quando vim da
materna sepultura
De novo à vida,
logo me fizeram
Estrelas
infelices obrigado.”
O
nascimento do poeta teria se dado numa data aziaga, pois o sábio Stoffer, de
Tubinque, havia predito um dilúvio na Europa no início de 1524, devido ao
ajuntamento de alguns planetas no signo de Peixes, daí o verso “estrelas infelices”. O próprio Camões fez
seu atestado de nascimento nos versos:
“O dia em que
nasci morra e pereça
Não o queira
jamais o tempo dar;
Não torne mais
ao mundo, e se tornar,
Eclipse, nesse
passo, o sol padeça.”
O
verso “não torne mais ao mundo”
indica que o povo acreditava que o mundo iria se acabar. E, segundo os
astrônomos, houve um eclipse no dia 23 de janeiro de 1524.
Até
mesmo o sobrenome, Camões, está
envolto em mistério. Alguns autores acreditam que o sobrenome deriva da ave
“camão”, que, de acordo com a crendice popular, morria em casa onde existisse “a menor infração à fidelidade conjugal”,
conforme escreveu Afrânio Peixoto em prefácio a uma das edições de “Os Lusíadas”. Ancestral do poeta teria
sido infamada, porém, a ave teria resistido. Em gratidão, adotaram o nome
Camão, que passou a Camões. Outros atribuem a origem do sobrenome à região da
Galícia, cujo ancestral seria Rui Garcia de Camanho, no século XII. Seus
descendentes passaram a assinar Caamões,
conforme Fernão Lopes, enquanto Mário Saa acreditava que o sobrenome derivava
de “Caiam”, que era uma “terra situada entre o Tejo e o Montalvo do
Soor. Caiam era o nome da Serra de Montejunto, ou ‘Montes juntos’, montes de
Caam ou Caamontes”.
O
pai do poeta seria Simão Vaz de Camões, filho de Antão Vaz da Camões, casado
com Guiomar Vaz da Gama, da mesma família do navegador Vasco da Gama. Apesar
das origens fidalgas, sua família era pobre. Camões teve uma “vida airada”.
Teria se enamorado por uma nobre, filha de ministro, sendo preterido pela
família da moça. De temperamento agitado e desassossegado, certa feita, em
1552, ao tentar defender um amigo que estava sendo agredido por um encapuçado,
feriu ao agressor, um certo Gaspar Borges Corte-Real, encarregado dos arreios
do Paço. Camões foi preso ao tronco da cidade, e depois ficou confinado na
prisão por oito meses e 18 dias. Sua liberdade foi condicionada à partida para
a Índia. Finalmente, a Corte ficaria livre do jovem inconveniente.
Camões
percorreu, em campanhas militares, vários lugares da Ásia: Chembre, China,
Molucas, ilha de Banda, Macau. Numa batalha perdeu o olho direito. Em Macau, tomou
posse, em 1558, do cargo de “provedor de defuntos e ausentes”. Foi acusado de
delitos administrativos; acabou sendo preso e levado à Índia, a fim de se
defender. Nesse meio tempo, havia se enamorado por uma bela chinesa, chamada de
Dinamene, que o acompanhou na viagem. Quando estavam passando pela foz do rio
Mekong, no antigo Sião, atual Tailândia, o navio naufragou. O poeta conseguiu
salvar os manuscritos de “Os Lusíadas”
numa das mãos, nadando com o outro braço. A moça chinesa, porém, se afogou.
Camões
perdeu a sua “alma minha gentil”, pela
qual sentiu “perpétua saudade de
minh´alma”. Em compensação, a humanidade ganhou uma obra magistral, que foi
traduzida em quase todos os idiomas conhecidos.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos
Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a
devida citação dos créditos).
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