Os efeitos da cobrança social sobre o corpo feminino Os efeitos da cobrança social sobre o corpo feminino
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Os efeitos da cobrança social sobre o corpo feminino

Os efeitos da cobrança social sobre o corpo feminino


Está chegando mais um Dia Internacional das Mulheres, uma data importante que nos provoca a falar mais sobre os direitos e as questões que atravessam esse nosso universo.

Hoje escolhi falar sobre o efeito do consumo automático das imagens de corpos impossíveis nas redes sociais que tem aumentado a cobrança que já não era pequena sobre o corpo das mulheres, desencadeando um aumento dos casos de autopercepção negativa do corpo por não atingir rígidos ideais estéticos. Sobre isso, Lira (2007) constatou que adolescentes que acessavam diariamente redes sociais como o Facebook e o Instagram e o tinham maior chance de se sentirem insatisfeitas com sua própria imagem, chegando a ter um percentual elevado de 6,57% (Facebook) e 4,47% (Instgram) do que as que acessam mensalmente (citado por Oliveira (p.33, 2022).

Outro dado que expressa o peso dessa tentativa de adequação carregado por muitas mulheres é que globalmente 86,5% das cirurgias estéticas forma realizadas por mulheres, sendo que 32,3% dos procedimentos de aumento de mamas foram realizados por adolescentes com 17 anos ou menos com justificativas puramente estéticas, conforme a pesquisa publicada em 2020 pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (citada por Oliveira, p.34, 2022).

O impacto dessa cobrança por padrões estéticos também aparece como um fator representativo nos quadros de transtornos alimentares como a Anorexia e Bulimia.

Conforme Oliveira (2022), essa jornada estética tem se tornado para as feministas a terceira jornada, que se soma ao trabalho formal e ao trabalho invisível de cuidado dos filhos e da casa mencionados na minha coluna “Nem fácil nem objeto de empolgação, chega de desrespeito das mulheres”¹ e também muito bem exemplificada pela psicóloga Carla Kawanami na coluna “Guerreira é a Xena, eu estou cansada”², que relata os desafios do cuidado de idosos e crianças e a importância das políticas públicas para a criação de espaços de cuidados para essas populações, favorecendo de alguma forma uma divisão do cuidado e de possibilidades para que as mulheres possam conciliar sua vida pessoal com o trabalho.

Sabemos que o percentual de quem tem condições de fazer a cirurgia é pequeno pelo seu alto custo, mas o desdobramento das tentativas de transformação do corpo vai se dando de outras formas, entre elas uma visão distorcida do próprio contexto, que leva pessoas a desconsideraram suas vivências, uma vez que não possuem o tempo e o dinheiro para essa carga extra estética que pessoas que trabalham com a imagem possuem.

Mas isso não surge do nada, vem de um discurso que fala que basta querer que você consegue um corpo, uma redução de peso no tempo estabelecido pelo responsável pela propaganda, sem considerar as particularidades da vida da pessoa, esse discurso muitas vezes é incorporado pela pessoa que vai sentindo que não chegar no resultado foi por falta de capacidade, mas não observa os demais elementos da vida.

Além da autocobrança para atingir esse corpo ideal que vem carregado de uma insatisfação crescente, chegando em alguns casos a desencadear o isolamento social por não ter a imagem ideal.

Penso que essa paralisia da vida no que tange a realização dos sonhos e objetivos é a marca menos visível mas muito danosa dessa cobrança social por um ideal estético que encontrou outras formas de propagação nas redes sociais.



Michele Gouveia é Psicanalista, Psicóloga Clínica e Consultora de Carreira, mestre em Psicologia Social e Especialista Clínica em Psicanálise e Linguagem pela PUC/SP. site: https://michelegouveia27.wixsite.com/michelegouveia

(Direitos Reservados. A Autora autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos)

Referência bibliográfica:

DE OLIVEIRA, Flávia Tavares. O acirramento da pressão estética direcionada às mulheres na contemporaneidade: uma leitura fenomenológico-hermenêutica. Mestrado em Psicologia clinica.2022.

https://sapientia.pucsp.br/handle/handle/25960





 

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