Um fato histórico pouco conhecido
sobre a cidade de Registro (SP) é a sua elevação à categoria de freguesia
(jurisdição eclesiástica, modernamente equivalente a paróquia). Geralmente
acredita-se que a história de Registro teve início com a chegada dos primeiros
colonos japoneses em 1914. Mas antes disso já existiam sitiantes ao longo do
rio Ribeira, moradores no território que modernamente constitui o município de
Registro.
As origens históricas da atual
cidade de Registro remontam ao tempo da mineração do ouro, nos idos do século
XVII, quando no local foi estabelecido pela Coroa portuguesa um oficial para
registrar o ouro minerado nos rios da região do Vale do Ribeira, que deveria
ser quintado (ou seja, pago o devido quinto real, equivalente a vinte por
cento) na Casa de Fundição de Ouro da Vila de Iguape.
Um manuscrito existente na
Biblioteca Nacional (disponibilizado digitalmente na Homeroteca Digital sob
número 1461066), comprova que a localidade de Registro foi elevada à categoria
de “Freguesia”, vinculada à Vila de Iguape, em 1768.
Em carta enviada da “Villa de Iguape” em 7 de agosto de 1768,
o coronel Afonso Botelho de Sampaio e Souza – encarregado pelo governador da
Capitania de São Paulo, Luiz Antônio de Sousa Botelho Mourão (o Morgado de
Mateus), para criar novas povoações no sul de São Paulo –, comunicava a chegada
à Vila de Iguape do padre João da Silva, que fora nomeado como pároco da nova “Freguesia do Registro”. O padre trouxe,
além da provisão de pároco, também provisões para fundar a igreja e para
levantar logo o altar “em que possa
celebrar os ofícios divinos no mesmo lugar que há de ser a Igreja”.
Na carta, Afonso Botelho,
cientifica o governador que os moradores do local, “como já participei a Vossa Excelência”, pedem que a Fazenda Real
forneça “ferramentas e ferragens necessárias
e os paramentos para logo poderem assistir os Divinos Cultos”. A construção
da pequena igreja e o estabelecimento da Freguesia de Registro devem ter
ocorrido nesse mesmo ano de 1768.
A mineração do ouro no Vale do
Ribeira, ainda que em pequena escala, continuou por todo o século XVIII até o
início do século XIX. Em 1807, os moradores da Freguesia de Xiririca se
queixaram à Câmara da Vila de Iguape sobre o imposto pago no Fisco de Registro.
A esse respeito, o historiador Waldemiro Fortes escreveu a seguinte nota (“Xiririca”, in “O Iguape”, nº 87, de 22-8-1926):
“26 de setembro de 1807: A
Câmara de Iguape atestou uma representação dos moradores de Xiririca sobre o
pagamento de ônus no Registro do Ribeira.”
Essa informação é valiosa por dois motivos: comprova que no início do
século XIX ainda se praticava a mineração do ouro na região e também que ainda
existia o Fisco na localidade de Registro.
Depois do ciclo do ouro, o
povoado de Registro não apresentou crescimento apreciável, ficando restrito à
sede e a diversos sítios situados ao longo do rio Ribeira e outros rios.
Somente a partir da segunda
década do século XX, com o estabelecimento de uma colônia japonesa, em 1914, é
que Registro conheceu um surto de progresso, com a criação do distrito policial
em 1928, do distrito de paz em 1934 e com a elevação a município em 1944,
transformando-se, a partir de então, na “Capital do Vale do Ribeira”.
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br