Em 1757, Apiaí já era povoado de certa importância,
pois o “Arrayal de Santa Anna”
(Iporanga), fundado por faiscadores de ouro, passou a pertencer àquela vila, da
qual era vigário D. Bento de Andrade Vieira. Em derredor da freguesia existiam “muitos sítios produtores de ouro” e
seus principais eram de “famílias das
Vila de Igoape”.
Foi nesse ano que Maria Madalena de Barros, rica
proprietária, delegou poderes a Bernardino Muniz da Silva e Antônio Antunes da
Silva para representá-la “nesta Vila de
Iguape” e nas minas de “Piahy” ao
capitão Nunes Gomes Pereira, Diogo Dias da Cunha e Francisco Ribeiro França
Viegas.
Foi nessa viagem a Iporanga que o tabelião de Iguape
recebeu a procuração firmada por Francisco de Souza e Pedro de Pontes Maciel,
sob juramento de “ajuda” das
testemunhas Romão de Veras, Antônio de França, Antônio Pereira, Nicolau
Antunes, Manuel Gonçalves Fontes, Antônio Costa Alvarenga, Breno da Silva,
Severino Veras, Miguel de Souza, Francisco Paes, Antônio Marques Cunha e
outros, todos moradores e proprietários “nas
redondezas da Barra do Vapurunduba”, para tratar junto “ao Reverendo Vigário de Iguape Antônio Ribeiro, nas condições de ser
autorizado a cobrança de meya oitava de oiro naquelas minas, da autorização
para tal e se fazer uma Capella”.
Pedro de Pontes Maciel, que pelo visto deveria ser
dos principais das minas do Ribeira acima, quando do casamento de seu filho
José com a “menina” Ana Rodrigues,
que foi criada por d. Narcisa de Freitas Ramos, casada com Antônio Antunes de
Almeida, proprietários no Batatal de bem organizada propriedade agrícola “com doze escravos, sete machos e cinco fêmeas”
e de casa na Vila de Xiririca, fez “por
ser de seu gosto”, distribuição de ouro em pó para polvilhar o cabelo das
damas que tomaram parte no baile das bodas.
D. Narcisa era filha do casal Antônio Pereira Veras
e Juliana de Freitas Ramos, natural de Iguape, e foi mãe de Felipe, Antônio,
Anacleto, Bento, Manoel e José. Embora tivesse criada como filha a “menina” Ana, sempre desejou uma filha.
Esse desejo está manifestado no seu testamento de 1802, do qual foram
testamenteiros seus cunhados João Antunes de Almeida e Joaquim Pereira Cardoso
e mais seu sobrinho Braz da Cunha Ramos, no trecho em que se lê: “a huma menina crioula Anna Rodrigues, que
foi por mim criada e está casa com José de Pontes Maciel, avaliado em quarenta
mil réis; a minha neta Rita, filha do meu filho Antônio; a minha afilhada,
filha do compadre Ângelo Francisco Ramalho, igual importância em bens e de que
sobrar de minha terça, as meninas moças donzelas mais pobres desta freguesia de
Xiririca; tudo em memoria de ter Deus na sua bondade me dado somente filho
varão”.
D. Narcisa descendia de Catarina de Freitas Ramos,
falecida em 1705 em Angra dos Reis e era neta de Antônio de Freitas Ramos e de
sua mulher Catarina de Ana. Foi seu avô Antônio de Freitas Ramos, de Iguape.
Antônio, filho de d. Narcisa, que também foi
explorador nas minas de Apiaí da Ribeira, em 1796, teve sério atrito com os
Souza do rio-acima e representados em Iguape pelos parentes Domingos e Banto,
com os quais posteriormente firmou um documento de acordo e no qual figuram
como testemunhas Valentim Muniz, Manoel de Freitas e João de Fontes.
A exploração do ouro nas minas do Ribeira provocava
sempre desavenças entre parentes. Foi o que aconteceu com os Marques Cunha e
Rodrigues Cunha e mais José Marinho em 1758. Para resolverem a questão, surgida
sobre os direitos, foram então nomeados procurados na Vila de Iguape, Manuel
Pereira de Faria, André Nelacio da Silva e o capitão José Alves Correia, na
Vila de Paranaguá a José Cabral e Manoel Pardinho Nobre e no Rio de Janeiro ao
Dr. Antônio P. da Silva.
Tinha razão o historiador quando, no Livro do Tombo,
hoje sob a guarda do Arquivo Histórico do Estado, afirmou: “... começou a crescer de tal sorte que achando-se já ocupadas as
cituaçoens mais vesinhas dos seus lemites foi se o Povo estendendo pela Ribeira
Sima rio navegavel até quinze dias de viagem sem embaraço considerável”.
O AUTOR
ARY DE MORAES GIANI nasceu na antiga Xiririca em 1913 e faleceu em Santos em 2005. Foi um
ilustre historiador e jornalista. Defendeu os interesses do Vale do Ribeira nas
páginas dos jornais de São Paulo e de Santos.
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. E-mail: robertofortes@uol.com.br