O naufrágio do padre João Eyró O naufrágio do padre João Eyró
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O naufrágio do padre João Eyró


Corre o ano de 1714. A Vila de Cananeia há algum tempo está sem padre. A vida transcorre pacata no lugarejo, mas não por muito tempo. Dentro em pouco, um fato marcante quebrará a rotina do lugar.


O naufrágio do padre João Eyró
O naufrágio do padre João Eyró


No mar em fora, lá bem adiante das ondas, eis que uma embarcação passa ao largo da Ilha do Mar (hoje Ilha Comprida). Numa frágil sumaca, viaja o padre João Eyró, acompanhado de outro religioso e mais o piloto.

Natural da Vila de Chaves, João Eyró partira da cidade de São Salvador, na Bahia, então a capital do Brasil, com destino à praça da Colônia do Sacramento, atual Uruguai.

Ventava muito forte. Ondas gigantescas quase emborcavam o acanhado barco.

O naufrágio do padre João Eyró
O naufrágio do padre João Eyró

Ao se aproximarem da costa da Ilha do Mar – talvez por descuido do mestre da embarcação ou, quem sabe, devido à forte ventania que castigava a embarcação – a sumaca veio a bater nos baixos do pontal da Ilha, então conhecido por “Ponta do Perigo”, a cerca de uma légua da costa, bem em frente à praia de fora.

Era noite cerrada. O padre João Eyró e o outro religioso conseguiram escapar da morte certa ao se agarrarem a uma tábua que, devido ao grande impacto, se soltara do tombadilho.

Nadaram durante toda a noite, sempre agarrados ao providencial pedaço de madeira. Dominados pelo medo e pelo cansaço, atravessaram a noite inteira cantando, com muita fé, a Ladainha de Nossa Senhora:

“Sancta Maria, ora pro nobis,
Sancta Dei Genitrix,
Sancta Virgo virginum,
Mater Christi,
Mater divinae gratiae,
Mater purissima,
Mater castissima,
Mater inviolata,
Mater intemerata,
Mater amabilis,
Mater admirabilis,
Mater boni consilii,
Mater Creatoris,
Mater Salvatoris,
Virgo prudentissima,
Virgo veneranda,
Virgo proedicanda,
Virgo potens,
Virgo clemens,
Virgo fidelis (...)”

Até que, pela manhã, exaustos, vieram encostar na praia do Pontal. Ao pisarem em solo firme, ficaram receosos por se encontrarem num lugar desconhecido e, possivelmente, povoado por indígenas.

Mas os seus temores logo se dissiparam ao serem encontrados por um honrado e caridoso morador do pontal, o português Antônio do Amaral Vasconcelos, que os acolheu em sua morada, onde viveram por algum tempo, sempre contando com a hospitalidade do generoso lusitano.

E tanto foram bem acolhidos que o outro religioso se casou com uma moça da família do português.

O padre João Eyró, por sua vez, acreditando piamente que fora salvo da morte devido a um milagre de São João Batista, padroeiro da Vila de Cananeia, decidiu ficar como padre do lugar durante o resto de seus dias, onde veio a falecer já em avançada idade.

E Cananeia voltou a ter sacerdote: o naufragado padre João Eyró, que, por esses caprichos do destino, veio acostar nas belas praias da Ilha Comprida.

ROBERTO FORTES
ROBERTO FORTES, historiador e jornalista, é licenciado em Letras e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.  E-mail: robertofortes@uol.com.br


(Direitos Reservados. O Autor autoriza a transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).


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