“O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”
Na semana passada, ocorreu algo incrível que movimentou a minha segunda feira: recebi, em um grupo de whatsapp, um link e um convite para participar de uma roda de conversa online com Márcia Tiburi, professora de filosofia da Universidade Paris 8. A internet possibilita esse encontro surreal: enquanto meu corpo localiza-se em uma cozinha na cidade de Registro/SP, enquanto minhas mãos seguram uma faca e descascam legumes para o almoço, minha audição, atenção, concentração e emoção estão conectados a alguém a quilômetros de distância.
2020 e 2021 foram anos caóticos. Digo “foram” com a esperança e ingenuidade de quem acredita que 2022 traz em si a potência dos dias melhores com os quais sonhamos. Sou alguém que gosta de superstições da virada do ano: lentilha, uva, animais que “fuçam” pra frente, cor da roupa íntima, tudo isso para atrair sorte e fartura. Não costumo fazer promessas, pois não gosto de prometer o que sei que não vou cumprir. Mas 2022 não é um ano qualquer: é um ano que traz em si um gosto amargo, resíduo do sofrimento vivenciado. E, se existe aprendizado no sofrimento, 2022 traz a tarefa de re-aprender a viver apesar de tudo que vivenciamos.
No diálogo com Márcia Tiburi, a filósofa abordou a questão da violência, do sofrimento, do lucro gerado pelo ódio nas redes sociais. Frente à desesperança, é lançada a pergunta: o que fazer? A filosofia não se propõe a ter respostas, mas existem alguns consensos, e um deles é acerca da potência do Amor. Não o amor romântico, envolto em ciúmes e fragilidade, mas o Amor enquanto força transformadora. Numa tentativa de nos proteger da violência, deixamos com que o medo nos isole, diminuindo dessa forma a potência desse Amor que é desenvolvido no coletivo, no contato entre as pessoas, no trabalho que visa a promoção da saúde e do bem estar. É esse Amor que sustenta a chama da Esperança.
Guimarães Rosa, em “Grande Sertão: Veredas” traz uma afirmação, que reproduzo aqui em forma de convite à reflexão: “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” E 2022, minhas amigas, amigos e amigues, exigirá de nós muita coragem. Feliz Natal, e um excelente Ano Novo <3.
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