A coluna Cotidano Psi dessa semana traz uma importante reflexão sobre positividade em tempos de pandemia.
“Carla, você pode dar dicas sobre como manter a positividade?”
Assim que lançamos a coluna Cotidiano Psi, recebi a seguinte demanda de uma pessoa querida: “Carla, vocês poderiam abordar o tema sobre como manter o otimismo e a positividade nesse momento”. Rapidamente eu, trabalhada no discurso da positividade tóxica, refutei essa possibilidade. “Como pensar em manter a positividade? O sofrimento é inerente ao momento”, respondi. Acreditava, eu, que não sofrer era apenas privilégio dos suficientemente alienados da situação caótica em que vivemos.
Até 2020, era comum eu acolher relatos do mal estar gerado por postagens de redes sociais. “Parece que todo mundo está produzindo, dando conta, menos eu”. Como abordou a psicóloga Michele Gouveia em nossa primeira publicação aqui na coluna (“A importância de fazer o possível”), vivemos em uma sociedade que exige felicidade e produtividade, e o sofrimento vem da incongruência entre o contexto e a cobrança.Porém, agora em 2021, são as postagens de luto, cada vez
mais frequentes, que provocam imenso sofrimento. Entre os diversos pensamentos
e emoções relacionados a essas postagens, o escancaramento da finitude da vida
e o questionamento sobre o seu sentido se tornam ainda mais evidentes.
Lendo a coluna do psicólogo Daniel Vicente sobre o tempo e a
importância do presente (“Nem sempre conseguimos viver cada momento como se fosse único”), a sensação despertada foi de uma familiaridade aconchegante, no
qual pudemos nos identificar com o relato e nos transportou ao nosso passado,
nesse lugar que agora é apenas memória. E, dessa forma, tive um momento de
bem-estar nesse momento de leituras tão doloridas. Pude então acolher a
solicitação sobre otimismo e positividade de uma maneira muito mais empática.
Quando procuramos por uma receita ou por um manual, o
fazemos porque não queremos incorrer em erro. O erro pode ter um custo alto, e
nem sempre temos a liberdade de aprender por tentativa e erro. Entendo que,
quando demandada por dicas sobre como manter o otimismo e a positividade, é
porque lidar com esse momento de medo e luto coletivo provoca sofrimento e
ansiedade, e procuramos por respostas e caminhos que possam nos manter sãos e
vivos.
Tenho acolhido muitos relatos de sintomas ansiosos e
depressivos, com alterações importantes no sono, no apetite, no humor,
provocando consequências prejudiciais em relação ao trabalho, aos estudos e à
convivência familiar. É importante reconhecer esses sintomas e buscar
atendimento médico e psicoterápico quando necessário.
Desde o início da pandemia, o discurso mais proeminente foi
o de manutenção da rotina. Eu, que sempre fui avessa à rotina, sinto-me
vivenciando a música “Cotidiano” de Chico Buarque. Essa contemplação passiva do
passar dos dias provoca a angustiante sensação da falta do controle sobre o
presente e consequentemente sobre o futuro, sendo que este dá o tom do sentido
da vida. A rotina, então, apresenta-se como uma forma de conservar-se e manter
a existência na esperança de um outro amanhã.
Driblamos a sensação de finitude da vida investindo em ações
que nos projetem ao futuro, de forma contraditória à certeza que nos encara. Da
mesma forma, para driblar a ansiedade, investir em atividades que requerem
cuidado diário podem ser uma alternativa. Dentre os relatos de bem-estar, posso
citar aquele proporcionado pela prática de atividades como jardinagem e/ou exercícios
físicos; pelo fortalecimento dos vínculos e relações, procurando alternativas
para se manter próximo daqueles que te cativam, através de telefonemas e
videochamadas, e deixando para outro momento relações mais conflituosas e
desgastantes; e pelo investimento em atividades que permitem a expressão de
vivências e emoções, como a escrita, a música, a dança, a fotografia.
Em meio a uma crise, não hesite em procurar ajuda: o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferta atendimento telefônico gratuito 24 horas através
do número 188. O Plantão Psicológico da UFSB (Universidade Federal do Sul da
Bahia) oferta atendimento em plantão psicológico online gratuito de terça a
quinta, das 9h às 21h. Existem também diversas psicólogas e psicólogos
realizando atendimento através de plataformas virtuais. Fica aqui meu abraço
virtual a todas e todos que leram esta coluna.
Carla Cristina Kawanami, CRP 06/96109, é psicóloga escolar
do Instituto Federal São Paulo (IFSP) campus Registro, graduada pela USP e
Mestre em Educação: Psicologia da Educação pela PUC SP. Docente do curso de
Psicologia na UniVR.
Contato:
Email: carla.kawanami@gmail.com
Facebook: Carla Kawanami
Instagram: @carlakawanami
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