Em
meados do século XIX, uma onda se levantou contra os excessos açucarados do
Romantismo. Era a “Nova Ideia”, que deu origem ao movimento realista.
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Gravura ilustrativa |
A
princípio, os poetas que se engajaram nessa corrente eram chamados de
“realistas” ou “socialistas”, pois procuravam retratar a realidade de seu
tempo, como as injustiças sociais e coisas do gênero; depois, a partir de 1886,
segundo investigou o poeta Manuel Bandeira, passaram a ser chamados de
“parnasianos”.
Um dos
primeiros que abraçaram essa “nova ideia” foi o poeta Francisco Antônio de
Carvalho Júnior (1855-1879). Formado em Direito, foi nomeado promotor público
em Angra dos Reis (RJ), mas faleceu pouco tempo depois. Não publicou em vida;
seus escritos dispersos foram reunidos e publicados pelo amigo Artur Barreiros,
sob o título “Parisina, escritos
póstumos”.
O
livro trazia na primeira parte um drama, “Parisina”;
na segunda, os 22 poemas deixados pelo autor, sob o título de “Hespérides”; na terceira, folhetins; na
quarta, crítica; e na quinta, escritos vários.
Carvalho
Júnior teve grande influência de Baudelaire (1821-1867), o poeta francês que
escandalizou o mundo ao publicar, em 1857, as suas “Flores do Mal”.
Carvalho
Júnior foi um poeta sensual, decadentista, gostava de escandalizar. Reagindo
veementemente contra as virgens cândidas e etéreas, tão caras ao Romantismo, o
poeta lapidou este cáustico soneto, intitulado “Profissão de Fé”:
Odeio
as virgens pálidas, cloróticas,
Belezas
de missal que o romantismo
Hidrófobo
apregoa em peças góticas,
Escritas
nuns acessos de histerismo.
Sofismas
de mulher, ilusões óticas,
Raquíticos
abortos do lirismo,
Sonhos
de carne, compleições exóticas,
Desfazem-se
perante o realismo.
Não
servem-me esses vagos ideais
Da
fina transparência dos cristais,
Almas
de santa e corpo de alfenim.
Prefiro
a exuberância dos contornos,
As
belezas da forma, seus adornos,
A
saúde, a matéria, a vida enfim.
Notas
Clorótica: relativo a clorose; anemia devida ao teor
insuficiente de hemoglobina nos glóbulos vermelhos.
Missal: Livro que contém as preces para a missa.
Hidrófobo: Que tem horror à água e a quaisquer líquidos.
Alfenim: Massa de açúcar branca e dura.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa do Vale do Ribeira. E-mail: robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a
transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).
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