Se
a língua fosse imutável e não sofresse transformações, ainda estaríamos falando
o Latim. Justamente por causa das mudanças e adaptações ocorridas ao longo dos
séculos é que as línguas nacionais foram se moldando e chegaram ao estágio
atual. Por outro lado, o Latim não pode ser considerado uma língua morta: a língua
dos romanos não morreu, mas se transformou em outras línguas, ditas românicas,
como o Português, o Italiano, o Espanhol, o Francês, o Romeno, entre outras.
Quem
manda na língua é o povo, e não os gramáticos, que apenas sistematizam e ordenam
a língua, adequando-a à chamada “norma culta”. Existem escritores que cultuam
um português castiço, parnasiano. Muitos de nossos escritores, hoje imortais,
fizeram uso dessa linguagem rebuscada, mas foram geniais a ponto de
transcenderem o pó-de-arroz e legarem à posteridade uma prosa vigorosa.
Poderia
citar Euclides da Cunha, Monteiro Lobato, Paulo Setúbal. O primeiro procurou
entender o nosso povo à luz das ciências de seu tempo; acertou em algumas
teses, errou em outras. O
segundo foi um crítico mordaz não apenas do governo, mas também da sociedade de
seu tempo, através de seus personagens literários e, principalmente, de seu
trabalho como jornalista. O terceiro foi buscar na História do Brasil a
matéria-prima para os seus romances que, mesmo escritos num português castiço,
cheio de rebuscamentos e superlativos, não deixam de encantar o leitor.
Ao
longo dos tempos, a Língua Portuguesa vem sofrendo mudanças, principalmente no
modo de falar, e também do ponto de vista gramatical. Diversas reformas
gramaticais foram feitas, sendo a última de 2009, numa tentativa de unificar a língua
em todos os países de expressão lusófona. Tal pretensão foi um tanto esdrúxula,
pois, mesmo falando a mesma língua, cada país tem as suas particularidades, que
não podem ser niveladas como se todos nós falássemos do mesmo jeito. Se até a
língua inglesa, que é a língua da globalização, não é unificada, por que, então,
a portuguesa deveria sê-lo?
Salutar
é, sim, a pretensão de muitos juristas e advogados de simplificarem ou, pelo
menos, tornarem inteligível a Língua Portuguesa por eles utilizada – o “juridiquês”.
Por que um advogado escreve: “V. Ex.ª,
data maxima venia, não adentrou às entranhas meritórias doutrinárias e
jurisprudenciais acopladas na inicial, que caracterizam, hialinamente, o dano
sofrido”, se poderia se exprimir assim: “V.
Ex.ª não observou devidamente a doutrina e a jurisprudência citadas na inicial,
que caracterizam, claramente, o dano sofrido” (?!)
Mesmo
que cada profissão tenha a sua linguagem própria, técnica, os profissionais
podem se exprimir de uma maneira menos iniciática, hermética, utilizando-se de
termos específicos somente quando estritamente necessários. Assim, seriam entendidos
e muita confusão seria evitada. Conforme disse certo advogado a uma conceituada
revista: “Muitas vezes, após uma
audiência, as pessoas cercam o advogado com olhar de interrogação, perguntando
se ganharam ou perderam a causa”...
Quem
manda na língua é o povo.
ROBERTO FORTES, escritor e poeta, é
licenciado em Letras e autor do livro de contos “O Tucano de Ouro - Crônicas da
Jureia” (2012), além de centenas de crônicas e artigos publicados na imprensa
do Vale do Ribeira. E-mail:
robertofortes@uol.com.br
(Direitos Reservados. O Autor autoriza a
transcrição total ou parcial deste texto com a devida citação dos créditos).
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