Inovação de alto impacto
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Paulo Skaf - Presidente SEBRAE-SP
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Minuto a minuto somos bombardeados com notícias
sobre algo que ameaça tirar o Brasil do processo de retomada de confiança tão
vital para a volta do crescimento. Acredito que não haja um cidadão brasileiro
de bem que não se sinta desconfortável com esta situação e procure contribuir e
encontrar saídas.
Claro que é importante buscar formas urgentes
de vencer a crise; mas também é vital ter a cabeça e os olhos focados na
construção de uma visão de futuro.
E onde está o futuro? Durante um congresso
internacional promovido recentemente em São Paulo foi apontado que o futuro
está naquelas empresas que criam valor para o consumidor. São os
empreendimentos inovadores e criativos, que usam a tecnologia para se
diferenciar e crescer no mercado. Os que promovem alto impacto.
É lógico, portanto, que esses negócios sejam
considerados estratégicos e recebam tratamento diferenciado para expandir e
consolidar-se. Lógico, mas nada mais longe da realidade.
Foi noticiado recentemente, de forma quase
despercebida, um dado preocupante. No Brasil, existem pouco mais de 31 mil
empresas de alto crescimento, que geram cerca de 4,4 milhões de empregos e
pagam R$ 103,2 bilhões em salários e outras remunerações. São as scale-ups,
assim definidas por crescer pelo menos 20% ao ano, em número de funcionários
e/ou receita, por três anos consecutivos. A esmagadora maioria é de pequenas e
médias empresas (92%) e contrata 100 vezes mais que o restante das empresas.
Até aqui, só boas notícias, certo? Em termos.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), pelo segundo
ano consecutivo, tivemos redução, em relação ao ano anterior, do número dessas
empresas (-6,4%), no pessoal ocupado assalariado (-10,4%). Em 2013, estes
recuos tinham sido menos intensos: 5,2% e 5,8%, respectivamente.
Fomos investigar as causas e não deu outra: os
gargalos burocráticos e tributários são gigantes, quase intransponíveis para
quem quer crescer. Se, por exemplo, a empresa ultrapassa os limites que
permitem sua inserção no sistema tributário simplificado, tem que migrar
diretamente para o modelo oneroso que rege a vida das grandes corporações.
Outro agravante: o investimento anjo no Brasil
está em desaceleração, chegando a 9% em 2016, contra os 14% de aumento
registrado em 2015. Provavelmente reflexo da taxa de juros alta, que faz com
que as aplicações em renda fixa sejam mais atraentes a potenciais investidores.
Não podemos virar a cara para o Brasil que dá
certo e que faz a diferença. Recentemente, durante a solenidade do Prêmio
Nacional de Inovação, que identifica e apoia ações inovadoras em micro,
pequenas, médias e grandes empresas, tive a oportunidade de celebrar com três
pequenos negócios paulistas, clientes do Sebrae-SP, que foram campeões. Eles
disputaram com quase 4 mil empresas inscritas, de todas as regiões do País, e
juntas com outros 16 empreendimentos se consagraram como referências nacionais
em desenvolvimento de inovação.
O Sebrae-SP está fazendo sua parte, com a
expansão de programas que viabilizem a criação e o fortalecimento de empresas
inovadoras. Com o Startup SP, 60 startups paulistas foram selecionadas para
participar do programa de aceleração de startups digitais e estão criando um
admirável mundo novo, totalmente conectado com as necessidades e oportunidades
da quarta revolução industrial, a era da indústria 4.0. Neste time estão também
15 mil pequenos negócios paulistas, de base tradicional, que já investiram
recursos na implantação de inovações em produtos e serviços, processos e na
gestão que participam do programa Agentes Locais de Inovação – ALI. Este ano o
Sebrae está aplicando R$ 350 milhões em inovação, cerca de 35% do orçamento
total.
Na outra ponta, a da melhoria do ambiente para
empreender e investir, tivemos avanços consideráveis como a regulamentação do
projeto de lei complementar (PLC) 25/2017, mais conhecido como Crescer sem
Medo, que regulamentou a figura do investimento-anjo, fazendo uma distinção
clara entre operador e investidor. E permite que a empresa permaneça no
Simples, mesmo após receber recursos deste tipo de investidor. Também foi
criada pela lei umafaixa de transição de até R$ 4,8 milhões para as empresas
que ultrapassarem o teto atual.
Mas ainda há muito que avançar. Nosso trabalho
agora é pela urgente aprovação das reformas previdenciária e trabalhista, pela
desburocratização e criação de incentivos fiscais que garantam maior aporte de
recursos de investidos privados, como já ocorre para quem investe em
pequenas empresas listadas na Bolsa de Valores, por exemplo.
É a nossa contribuição para que a confiança no
Brasil não seja apenas retomada, mas sim consolidada num ciclo virtuoso do
desenvolvimento sustentável.
Paulo Skaf
Presidente SEBRAE-SP